O Movimento de Educação Para Todos visitou o bairro de Maxaquene, na cidade de Maputo, para se inteirar do Trabalho do sr. Salomão Tambo, de 57 anos, residente naquele bairro. Desde 2016 que o sr. Salomão apoia as crianças a ter um bom desempenho escolar, explicando crianças residentes naquele bairro.
Formado em Marketing e Vendas pelo Instituto Médio Técnico Profissional-CATMOZ, foi Assistente na mesma instituição nas disciplinas de comunicação empresarial e relações públicas
MEPT – o que motivou o sr. Salomão a dar aulas de explicação às crianças deste bairro?
ST – Olha, isso foi algo involuntário. Uma vizinha me contactou em 2016, para dar explicação ao filho, e assim foram surgindo mais pedidos, e sem me aperceber o número foi crescendo estando actualmente com 20 alunos, 10 no período da manhã e 10 no período da tarde.
MEPT – tendo em conta que é algo que aconteceu de forma involuntária, poderíamos afirmar que esse interesse dos pais em procurá-lo tem a ver com os bons resultados das algumas crianças que vinham tendo explicação com o senhor, o caso do seu primeiro aluno?
ST – Bom! É complicado me auto avaliar, mas pela comunicação que tenho com os encarregados de educação, a maioria diz que houve uma grande evolução após matricular nas aulas de explicação. Em particular na leitura.
MEPT – Quais são as classes que ensina?
ST – Eu dou explicação a crianças da 1ª a 7ª classe. Como muitas delas têm dificuldades na leitura e no cálculo, eu agrupo todas na mesma turma, mas faço em dois turnos. Um no período da manhã e outro de tarde. No caso particular da 7ª classe tenho apenas um aluno, e sexta 3. Com estes trabalhos de forma isolada. O da 7ª venho trabalhando com ele desde o tempo em que frequentava a segunda classe.
MEPT – Qual tem sido o maior desafio nesta actividade?
ST – Um dos maiores desafios é a motivação das crianças. Eu sinto que elas estão aqui por obrigação, e não por vontade própria, uma e outra é que mostra o interesse pelo estudo. Mas isso deve-se pela fraca participação dos pais na educação das crianças. Sou da opinião que, os pais devem ser referências para os filhos, e cultivar neles o gosto pelo aprendizado e quem sabe assim não teríamos elevado índice de mau aproveitamento escolar.
MEPT – Na sua opinião, o que estaria por detrás deste mau aproveitamento escolar das crianças além do que referiu acima?
ST- São vários os factores. Começaria por apontar o absentismo dos professores, rácio professor/aluno, as infraestruturas escolares entre outros. É muito difícil trabalhar a caligrafia de um aluno que senta no chão. É muito mais difícil ainda fazer o acompanhamento do aluno numa turma com mais de 50. Mas nisto tudo, a que reconhecer que os nossos manuais didácticos são muito ricos em ensinamento, e são de fácil compreensão.
MEPT – Tem feito algum tipo de cobrança neste trabalho?
ST – olha, o valor que cobro é simbólico, da 1ª a 5ª classe cobro 150 a cada aluno mensalmente e 200 os da 6ª e 7ª. Mas este valor foi estipulado tendo em conta as condições económicas dos encarregados de educação. Como muitos sabem, a maioria dos residentes deste bairro são de classe baixa, e mesmo estes 150 tem alguns pais que tem dificuldades em pagar.
MEPT – Onde adquiriu os materiais usados nas aulas de explicação?
ST- para o caso dos quadros, três são retalhos que recolhi nas carpintarias, apenas um foi oferta de uma idosa que beneficiava também das minhas aulas, mais ao longo do tempo desistiu e deixou-me com os quadros.
MEPT – Como é que imaginas a qualidade de educação daqui há 20 anos?
ST – Bem melhor que hoje. Com a evolução das tecnologias, me parece que os alunos buscam novas formas de ganhar conhecimento, e isto é bom, significa que ele já não é dependente do professor.